'Ele é meu mundo', diz mãe de fotógrafo brasileiro desaparecido em Paris
08/12/2024
Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, está desaparecido desde o fim de novembro. Nossos repórteres refizeram os passos de Flávio na capital francesa. Você vai ver, com exclusividade, o depoimento do amigo que fez o último contato com o brasileiro. E também a angústia da família, no interior de Minas Gerais. 'Ele é meu mundo', diz mãe de fotógrafo brasileiro desaparecido em Paris
O Fotógrafo Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, está desapareceu em Paris ( França) há 13 dias.
A família do fotógrafo recebeu o Fantástico com exclusividade. Sem notícias do filho, Marta acompanha as investigações e não sabe como suportar a angústia. O último contato dela com Flávio foi um dia antes do desaparecimento.
“Eu não desejo que nenhuma mãe nesse mundo venha sentir, venha passar, o que eu tenho passado nesses dez dias, que parece que é o infinito. Eu preciso estar aqui de pé para receber meu filho de volta, porque ele é o meu mundo”, afirma Marta Maria de Castro, auxiliar de enfermagem.
Um caso que mobiliza parentes, amigos e autoridades no Brasil e na França. E que fez a Interpol emitir um alerta para 196 países perguntando: onde está Flávio de Castro Sousa?
Rafael Basso é um dos amigos que vêm ajudando as autoridades nas buscas pelo fotógrafo mineiro.
Nesta troca de mensagens, obtida com exclusividade pelo Fantástico, Flávio de Castro Sousa conversa com o francês Alexandre Callet, o Alex. O estudante de moda foi a última pessoa que teve contato com o Flávio.
O brasileiro, que tinha acabado de terminar um trabalho em Paris e estava de férias, relata que caiu na Ilha dos Cisnes, no meio do Rio Sena, e aguardou socorro por três horas - até ser resgatado pelos bombeiros e levado para o hospital com suspeita de hipotermia.
A data: 26 de novembro, o mesmo dia em que Flávio retornaria pro Brasil, depois de passar quase um mês na França.
Numa foto, Flávio mostra a pulseira de atendimento na emergência de um hospital, que fica a cerca de dez minutos do local da queda.
“Eu perguntei: 'Como assim? Como você conseguiu se machucar desse jeito?' Ele respondeu: 'Não sei, só sei que caí.'
O brasileiro também escreveu para Alex: "Os bombeiros disseram que tive sorte de estar vivo. Não consegui sair da água. Fiquei muito tempo lá." E disse ainda: "Eu bebi demais e fiz uma besteira enorme".
Poucas horas depois dar entrada no hospital, Flávio teve alta. "Me liberaram ao meio-dia, o horário do meu voo. Fui na imobiliária que me alugou o apartamento pra pedir ajuda. “Quero ficar pelo menos um dia a mais até conseguir um novo voo", escreveu.
Outra preocupação do Flávio era com a bagagem, que tinha ficado dentro do apartamento alugado por ele.
“Eu disse que, qualquer problema, ele podia ir lá pra casa. E aí ele me respondeu: "Não, não se preocupe, eu me viro".
Flávio negociou com a imobiliária e conseguiu um outro apartamento. colocou as roupas molhadas pra lavar e disse a Alex: "Vou tentar dormir. Estou exausto".
No dia seguinte, Alex voltou a fazer contato com o brasileiro, mas não teve retorno.
“Comecei a achar tudo muito bizarro. Voltei pro apartamento alugado, tentei digitar a senha da fechadura digital, mas não deu certo. Aí depois liguei pra imobiliária, e eles disseram: "Olha, a gente não sabe onde ele tá. Mas um senhor que trabalha num restaurante atendeu o celular do Flávio", conta Alex.
Era o restaurante onde o celular de Flávio foi encontrado, às margens do Sena, próximo ao local da queda.
“Entrei em pânico e fui direto pra delegacia”, conta Alex.
Alex fez contato com dois amigos de Flávio: Lucien, sócio do fotógrafo que está no Brasil; e Rafael, que mora em Paris. Eles procuraram o Consulado brasileiro.
“O que a gente quer é o acesso à câmera porque, na verdade, enfim, Paris é uma das cidades mais vigiadas do mundo. E a gente fala desse lugar aqui, precisamente, porque o restaurante que o celular foi encontrado está desse lado. Então se houve alguma passagem do Flávio por aqui, a passarela toda é monitorada”, conta Rafael.
Mas não é simples ter acesso ao circuito de câmeras. “O protocolo pra abertura de câmera na França é extremamente restrito”, conta Rafael.
O delegado da Polícia Federal do Brasil, que acompanha as investigações em Paris, explica o que diz a lei francesa em casos como o do Flávio.
Flávio de Castro Sousa, de 36 anos, está desaparecido desde o fim de novembro
Reprodução / Fantástico
“Diferente do Brasil, é expresso aqui o direito da pessoa desaparecer. Ela pode simplesmente ter essa vontade, desde que maior de idade e não tenha nenhuma entrada criminal ou de outra natureza”, explica Luiz Roberto Ungaretti De Godoy, Delegado da Polícia Federal.
“A gente fez uma luta para que o caso fosse um caso diplomático, porque aí sim Estado brasileiro pede explicações pra polícia francesa”, afirma Rafael.
Na terça-feira , 3/12, o presidente do senado, Rodrigo Pacheco, pediu empenho nas investigações: “Desde já, em nome do parlamento brasileiro, peço o engajamento das autoridades francesas, todas elas, pra que possam esclarecer esse acontecimento”.
Na quarta, 04/12, representantes da polícia federal brasileira na França analisaram a bagagem do fotógrafo, encontrada no apartamento alugado.
Entre os pertences, estava o passaporte dele. No mesmo dia, a Interpol incluiu Flávio de Castro Sousa no alerta global sobre pessoas desaparecidas.
“Infelizmente a gente não tem uma resposta ainda concreta de nada, mas a gente sente pelo menos que algo tem sido feito”, conta Lucien Esteban, fotógrafo e sócio de Flávio.
Flávio nasceu em Candeias, cidade de 14 mil habitantes no centro-oeste de Minas. Desde cedo, ele sempre foi um menino curioso, interessado por história, cultura. Mais tarde se mudou pra Belo Horioznte, onde estudou artes plásticas e virou fotógrafo. Nessa última viagem à Franca, o Flávio estava muito feliz por ter conciliado duas paixões: o trabalho e Paris.
Flávio e Lucien têm uma agência especializada em fotografias de casamento e viajaram à capital francesa pra registrar a celebração de uma amiga deles, a Isabela.
“O Flávio fotografou todos os momentos importantes da minha vida. Eu sempre me encantei pelo trabalho dele. Eu gosto do jeito que ele olha, que ele captura os momentos”, conta Isabela de Lima Oliveira, relações públicas.
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